segunda-feira, 30 de maio de 2016

A insanidade levou a minha mãe

A insanidade levou a minha mãe 

Perdi a minha mãe para a insanidade mental. Não percebemos que ela estava indo já que aparentava ser uma depressão e que ao ser tratada logo estaria bem de novo, mas não foi o que aconteceu.
Ela começou a ir embora antes do Natal e não pudemos nos despedir e nem ter consciência de que ela não voltaria mais. Aquela mulher que cuidava bravamente do lar equilibrando tudo e sempre pronta a ajudar já estava partindo.
Começou a ter delírios, mudava de voz como se mergulhando em outras personalidades. Os remédios efeito algum faziam, o quadro foi piorando, e cada vez mais estávamos perdidos. Até que o médico, em março, a diagnosticou como esquizofrênica e eu já sabia que não havia cura. Saí do consultório como se estivesse anestesiada sem acreditar que fosse realmente o que ele falou. E tentando fugir da realidade, tentando achar que estava dentro de um pesadelo e que tudo voltaria ao normal.
Cheguei em casa, procurando encontrar o chão e creio que só não me enfiei num buraco porque fui abençoada com um trabalho e hoje é o que me mantém em pé ou já teria desabado.
Pois bem, passado o choque procurei aceitar a nova realidade, e tentando não pensar mais em como ela era até antes do Natal de 2015. É! A minha mãe é uma outra pessoa, não presta mais atenção em nada, não assiste às novelas que tanto gostava, não programa mais os passeios ao cinema, as exposições e ao teatro. Não cuida mais da família e não se cuida mais. 
A cada hora do dia tem um comportamento diferente, acorda acelerada e dá voltas sem parar na sala, na cozinha ou no quarto, senta no sofá, mexe no cabelo com gestos repetitivos. E então começa a repetir frases como: "Paula, você não vai sair hoje. Fica com a mãe!", e repete por diversas vezes essa frase e outras como se fosse um robô, pois não adiante falar pra parar e nem gritar. A impotência me domina já que não consigo fazer com que ela pare e volte pra vida real, e assim continua em seu universo paralelo criando paranóias e fantasias.
Se ela ficar sozinha, em casa, não vai comer, não vai tomar banho, não vai tomar os remédios, não vai fazer nada para se cuidar e sim apenas o que a sua mente insana diz o que ela deve fazer.
Não sei por quanto tempo terei forças para suportar, espero ter muita. Mas está bem difícil, pois não consigo mais esconder que estou fraca, estado de nervos à flor da pele, muito estresse por não conseguir trazê-la de volta sabendo que isso é impossível. Ainda não consigo acreditar que ela não voltará mais, e a voz e o riso  que não são mais os mesmos me fazem ter a certeza disso. Não há mais alegria em minha casa, não há os planos de viagem que ela fazia. Não há mais nada, além de uma rotina insana. Espero que talvez em sua loucura encontre um pouco de paz.
Sigo fingindo que está tudo bem para que as coisas não fiquem piores. 

E enquanto escrevo ouço os passos dela andando de um lado para o outro no quarto...anda e anda e anda até que se cansa e deita.

sábado, 21 de novembro de 2015

No lixo, o lixo

Sou aquele saco de lixo que vai sendo preenchido ao longo do dia e chegando ao limite é levado para fora e recolhido.
Segue a minha viagem entre tantos lixos, odores, barulhos e finalmente chego ao meu destino. Junto dos meus cá estou entre tantas garrafas vazias, embalagens de todos os tipos, restos de comida, dejetos humanos e entre pessoas e ratos.
Só se identifica o que é vivo pelo movimento, aqui e ali torna-se tudo uma coisa só. Somos lixos! Os ratos caçam aquilo que é possível comer, e os humanos também caçam aquilo que pode render, que valha algum trocado, a sobrevivência na miséria.
Aqui onde a minha alma e o meu corpo se degeneram, não sinto vontade de luta, apenas me misturo ao lixo, as minhas lágrimas transformam-se em chorume. Não há mais nada, sou um completo lixo!
Deixo-me ser jogada, ser esmagada, ser amassada, ser massacrada.
Apodrecendo em contagem regressiva até a minha morte, onde não haverá frutos, pois esse meu lixo não se recicla, apenas apodrece e morre.

domingo, 13 de setembro de 2015

Não me diga nada

Não quero ouvir,
Não quero ler,
Tudo aquilo que não me diz nada.
Não me venha com a sua ideologia. 
Tudo aquilo que não me traz nada.
Não me venha com a sua religião, 
Tudo aquilo que não me conforta em nada.
Não me venha com a sua graça, 
Tudo aquilo que me joga pro nada.
Não me venha com os seus elogios,
Tudo aquilo que me torna um nada.
Não me venha com o seu enredo,
Tudo aquilo que se traduz em nada.
Não me venha trazer a sua paz,
Tudo aquilo que me leva ao nada.
Não me venha com o seu prazer,
Tudo aquilo que sinto é o nada.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Sou só tristeza

Um dia e mais um dia, e outros dias que finjo serem de alegria.
Em maioria são tristezas, de alegrias apenas as fantasias.
E a cada dia nas pessoas eu menos confio.
Eu me desafio a permanecer viva, mas de verdade sinto-me morta.
Ainda me questiono por que cá ainda estou. 
Imagino-me de algumas maneiras mortas.
Não vejo sentido em minha existência.
Quando estou ao vento torço para que ele me leve e não me traga mais de volta. 

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

MÁSCARA, LAMENTO, LOUCURA

Tem dias em que me imagino com alguma demência mental, onde me parece que eu seria mais feliz. Vivendo num mundo só meu, alheia ao mundo "real".
Tenho a sensação que os loucos são mais felizes, não há medo, não há imposições, não há limites. Em minha insanidade o chamado bullying não me afetaria, viveria sem me prender a regras, meio que eu estaria num incrível mundo de Bob.
Sei que as desvantagens existiriam, mas eu viveria bem habitando em minha loucura. Os meus sentimentos, ou melhor, os sentidos seriam outros e acredito que não me fariam tanto mal, estaria livre da angústia, da ansiedade e da confusão as quais me atormentam.
Sinto-me distanciando das pessoas, e quando as tenho por perto não sou eu por completo, sempre me protejo usando uma máscara para não ser descoberta a minha fragilidade. E a todo momento quero que me vejam bem, jamais me lamentando, afinal quais seriam os meus lamentos? Isso me perguntariam e me julgariam pela frente ou pelas costas, e mais questões me atormentariam.
Sim, isso é bem louco. Será que já estou entrando em processo de loucura? Acho que ainda não, afinal ainda tenho consciência do que estou pensando, somente não sei até quando.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

FOTOGRAFAR

Um ser invisível com a visão do todo. Ainda estou engatinhando no mundo da fotografia, e estou experimentando sensações como a de me tornar a mais discreta possível ao "invadir" cenas para captar o melhor momento, aquilo que deve ser o centro das atenções.
A visão do fotógrafo capta aquilo que não pode ser visto no ato, e que foi perdido no momento em que aconteceu, e de repente algo mágico foi apreendido pela lente, pelo olhar rápido, pelo clique infalível.
É muito engraçado estar do outro lado, fazendo parte de algo, mas de um ângulo diferente. Como estar numa cerimônia religiosa, mas com outro tipo de visão, enquanto todos estão parados e focados  num só lugar, eu devo andar e focar em tudo que deva ser registrado.
Somente quem ama a fotografia consegue compreender, digo isso porque mudei muito o meu olhar através das lentes, passei a enxergar coisas que antes me eram imperceptíveis, comecei a buscar detalhes, ampliar a minha mente, enxergar melhor o belo e o feio.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

FINGIR

Há dias que não quero falar com ninguém, apenas ficar em meu mundo e falar comigo mesma. Afinal, somente o meu eu poderá "compreender" as minhas loucuras. Mas como vivo em sociedade devo fingir.
E lá vou eu, criar um personagem que finge ser eu. Finjo que estou bem quando me perguntam, tento dar respostas que não gerem perguntas e não façam o meu personagem desabar, pois ele deve permanecer afável e simpático. As falas devem ser curtas e precisas, o tempo todo interpretando um humor irreal. De vez em quando poderá sair uns sorrisos verdadeiros, mas no mais sairão os sorrisos falsos, aqueles que me livrem de qualquer interrogação do meu interlocuto.
É isso! Tem dias que só desejo falar sozinha, sem gracejos e sem confusões que não sejam minhas. Quando há outras pessoas a minha volta tenho que controlar os meus fantasmas, uma tarefa que que algumas vezes é árdua.
E por essas e outras para mim torna-se mais fácil fazer a mulher invisível, e esse é o meu melhor personagem. Através dela fico na espreita, de olho em tudo, e ao mesmo tempo em nada. Quem me conhece sabe que dou aquelas minhas "stalkeadas", as vezes em quem me interessa. E faço isso para me certificar onde estou pisando, ou entro em lugares nunca dantes navegados, e vou parar bem distante. Consigo ir bem longe, fazendo vôos bem distantes, aliás sou bem avoada. 
Deve ser por isso que mantenho essa minha armadura, meu personagem, pois não quero dar explicações do mundo que é só meu, os meus mimimis, os meus blábláblás são somente meus.
Como ainda não tenho um analista fico com o meu personagem, a fake Ana que se isola e finge que está tudo bem, e dessa maneira vou vivendo.