quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Confusão humana

Quão difícil é entender,
uns querem a paz,
outros almejam a guerra.
Um conflito interno,
externo que é eterno,
De mentes diferentes,
tantas vezes incoerentes
Compreender o ser
Entender o humano.
Gestos de bondade
e extrema maldade
que se fundem,
e nos confundem,
Saber o errado,
Aprender o certo?
Sociedades manipuladas,
Preconceitos formados,
Discursos inflamados,
Regras estabelecidas,
Idéias contestadas,
Revoltas armadas
por seres irracionas
e também geniais.
Seremos animais?
É sede de bebida,
Sede de poder,
É fome de comida,
Fome de viver.
Uma batalha na mente,
que permanecerá
até quando a humanidade
ainda existirá?
Será eternamente?

Adrenalina

Já vai começar
Coração rápido a pulsar
Sangue a esquentar,
Olhos a acompanhar,
a bola a deslizar.
Presos no campo,
homens no gramado,
e do outro lado,
Paixão e temor,
o louco torcedor
Mirando em uma direção
A mente em turbilhão.
O riso nervoso,
O choro raivoso,
O corpo treme,
O frio no ventre,
O suor escorre.
Não há controle,
Sentidos aguçados,
todos misturados,
Êxtase acontece,
Emoção explode,
a bola na rede
Momento esperado,
objetivo alcançado
Unicamente, o gol.

Corte profundo

A cabeça abaixa,
o corpo se encolhe.
Não existe magia,
Melancólica filosofia
Nada se encaixa
O medo se apodera
do todo, impregna,
padece e adoece
O pavor incomoda
A loucura se instala,
Se arma a batalha,
afiada navalha
e o interior se corta,
Sangra em dor,
Sangue apodrecido
Não há vida,
desfigura a alma,
se dilacera,
O escalpelo disseca
Espírito se decompõe,
A matéria se degenera
Destruição fisiológica
Mentalmente produzida
pela razão sem lógica.
Um corte
que faz da vida
uma morte.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Devaneios

Desejo floresce
em meu peito cresce
Surge de um pensamento,
talvez trazido pelo vento.
Mas não apenas um desejo
são tantos que alimento.
Se tornarão reais?
Sonhos que se achegam,
Ambições se misturam.
Devaneios possíveis,
Utopias inalcançáveis
Certo é que se não sonhássemos,
a lugar algum chegaríamos
Podemos chegar ao nada,
Mas o que isso importa
Sim, se o meu desejo maior
é o de apenas abrir a porta,
deixar a luz entrar,
o vento soprar,
e também seguir
e assim caminhar
E posso sim! Mais desejar,
seja lá o que eu queira,
que seja uma estrela,
sei a minha mão não a alcançará,
mas o meu desejo a encontrará,
e sei em meu sonho,
ela em minhas mãos
estará...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Poetizar

Se unem
as palavras
de forma
tocante,
se atraem,
trazendo
ou paixão,
ou solidão,
ou sofreguidão.
Conteúdo diverso,
Quase tudo
em verso,
Um sonho
no papel
Traçando
um caminho,
ficcional
ou real
As palavras
se unindo,
se transformando,
nos levando
a divagar...
Ah! Um suspiro...
E como é bom chegar
Idealizar,
se inspirar,
enfim,
poetizar...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Palavra...saudade

Saudade: uma palavra
Doída?
Sim e não
É aflita,
É chorada,
É gostosa,
Saudosa e
Carinhosa
Tão sentida,
distante do corpo
e tão perto da alma
Saudade
de um beijo,
de um cheiro,
de um queijo
É do choro!
É do riso!
Ê saudade no pensamento...
Cadê o abraço?
E aquela flor?
E como é dor!?
E que da mente...não sai
E lá vem saudade...
De outrora,
De uma história,
De uma frase,
De uma palavra,
De um amor,
Simplesmente saudade.

Lia, dos cabelos negros


A pequena, pequena Lia retraída, entregue ao seu mundo de faz-de-conta, sozinha em seu quarto criando fantasias, sempre perdida em seus devaneios, mas apesar disso atenta ao mundo real, afinal de contas quem disse que criança não consegue compreender o mundinho dos adultos. A menina que em fotos, as vezes meio emburrada, com aquele ar: - Pô de novo, que saco!. Outras vezes, transmitindo simpatia, ou melhor dizendo, porque não na maioria das vezes, sim, pois, Lia, possui uma capacidade de alegrar todos ao seu redor, de uma maneira inexplicável, aquele seu sorriso tem um quê...irradia, inebria, ilumina. Imperdoavelmente só, aquela menina dos cabelos negros, capaz de conquistar a todos com seu inesquecível sorriso, através de sua timidez que intimida acaba por acabrunhar-se em mais um dia e noite de sonho só. Amanhece, todos em casa se preparam para a viagem, Lia, filha única, mal dormiu pensando na praia, local ainda desconhecido, mas já preferido daquela indiazinha, ou melhor, a moreninha, afinal odeia que a chamem de índia, fica muito brava. Ainda é cedo pra essa garotinha entender que ser chamada de índia é digno de honra, porque sê-la é guerreira, é bela, é única, é brasileira. Antes da partida, lá vem um senhor pela rua puxando um burro e um carneiro colorido e a menina e os seus pais, principalmente, logo imaginam, quem vem é o homem do retrato, que se achega conquistando-os. Então lá vai a caboclinha, montar no burro para mais uma foto de infância, toda corajosa, mas com medo de cair, mesmo assim agüentou firme, pois sempre gostou de animal de montaria, e em seus sonhos já se imaginou um cavalo selvagem e sozinho. Agora sim, após as fotos de família posada, vão todos para o carro a caminho do mar, onde a menina registra a cada cena como se fosse a mais importante de sua vida. E saindo da capital, começa a estrada, a descida da serra, as árvores nos montes encantam aquele pequeno ser (e se pergunta quem mora naquele lugar), que se deslumbra ao entrar nos túneis e sentir seus tímpanos se tamparem e seus olhinhos castanhos sem saber em qual direção se guiar, afinal é muita novidade. Ah, está chegando! Ela está sentindo o cheiro de maresia, o gosto do sal invadindo o seu paladar, definitivamente, essa mistura avassaladora, aconchegou-se em Lia, tomou-a sem pedir licença... Paixão e Amor, sim a primeira vista! Afinal aquela imensidão azul assusta e hipnotiza, violenta e acalma, com suas grandes ondas que de repente se desfazem, parecendo um encanto, mas é encanto perceber o quanto a doce menina se entrega em um momento tão único, crucial para saber o quão importante é a nossa vida. Os cabelos negros agora cobrem os seus olhos, culpa do vento que forte acaba por levar também a areia para os seus olhinhos, mas nem isso a desagrada, fica radiante com tudo até com essa irritação. Então acaba por se jogar na areia, molda-se a ela, se sente nela, parece que nasceu dali, ainda há mais para descobrir, sim o mar e lá vai correndo temerosa junto a ele, pois entendeu sem que lhe explicassem que deveria respeitá-lo, senão poderia ser engolida pelo gigante, como aquele criado em um de seus contos de faz de conta, e foi mas com cuidado e pisou na água como que pedindo licença para penetrá-lo e os seus pézinhos se deliciaram ao afundarem na areia e as ondas vinham batendo e puxando-a para frente, é aquele velho feitiço do mar nos testando, de repente virou-se para trás e correu, pulou fascinada na areia, esse êxtase da pequena enfeitiçava a todos presentes, fazendo-os talvez perceberem um pouquinho, o tal porquê da nossa existência.

1554 ou 1532? ( Vila de Piratininga )

São Paulo, cidade imponente muitas vezes impotente.
Mãe de muitos filhos obstinados e outros muitos abandonados.
Cresce por todos os lados. Como consegue arranjar espaço?
Acolhe em seu concreto ninho, pombas e pardais.
Emaranhada de fios, de postes, de luzes.
Quatrocentona tão maltratada, mas ainda admirada.
Muitos querem salvá-la outros apenas sugá-la.
Terra que foi dos barões e hoje é dos espigões.
Capital do dinheiro e mina do empreiteiro.
Obras super faturadas muitas vezes não acabadas.
Chão de asfalto, de barro e de diversos buracos.
Há também cultura e a escondida fartura.
Noite de medo, de música, de drama, de humor e de infinito.
Gigante e distante para muitos imigrantes.
Em seu cinza artificial há ainda o verde natural.
Milionária em gente, em miséria, em riqueza, em arte.
Diferenças magneticamente unidas
Estranho e maravilhoso é o seu contraste.
Melancólica, enclausurada, vive a menina.
Devaneia enlouquecida e clama por paz.
Época de outrora será que um dia retorna ?
Ainda é muito boa! Mesmo perdendo a sua garoa.
Arquiteturas diversas, com suas pessoas dispersas.
Torre de Babel incrívelmente construída.